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| - Em conferência de imprensa conjunta com o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, na passada sexta-feira, D. Américo Aguiar anunciou as alterações aos palcos previstos para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Em relação à polémica do custo do palco-altar, entretanto reduzido de 4,2 para 2,9 milhões de euros, o presidente da fundação da JMJ referiu-se aos exemplos de outras edições.
“Quanto ao preço dos palcos das outras Jornadas. Não é muito bonito nós estarmos a pronunciar-nos sobre os outros e sobre os outros países, como não é bonito ao contrário. E nós não o vamos fazer. Agora, posso dizer, podem fazer o Polígrafo se quiserem, que os custos dos palcos das JMJ anteriores são similares, alguns para muito mais e outros para ligeiramente menos“, afirmou o bispo auxiliar de Lisboa, depois de questionado por jornalistas sobre a polémica do custo da infraestrutura.
É verdade que os custos dos palcos de edições anteriores na JMJ são em alguns casos “muito maiores” e noutros “ligeiramente menores”?
Ao Polígrafo, fonte oficial da organização da Jornada Mundial da Juventude 2023 sublinha que, ao falar, o bispo auxiliar de Lisboa tinha em mente os custos das jornadas de Madrid, em 2011, e do Panamá, em 2019.
Começando por Madrid, 70% dos custos do evento desta edição foram cobertos pelo valor pago pelos peregrinos e 30% por patrocínios – ou seja, o Estado não colocou dinheiro no evento. O Governo Espanhol apenas isentou de IVA os patrocinadores privados.
Em declarações à RTP, no passado 31 de janeiro, o diretor executivo da Jornada Mundial da Juventude de Madrid, Yago de la Cierva, afirmou ter dificuldades em “perceber onde é que se vai gastar” tanto dinheiro com o evento em Lisboa, defendendo que existem duas formas de fazer a JMJ, a saber: “Com muito dinheiro ou com muitos voluntários”.
Cierva garantiu que “a JMJ em Madrid foi a mais barata de sempre” devido à crise económica que Espanha atravessava há 12 anos. Tal como se explica na peça citada, foram instalados dois palcos na capital espanhola para acolher as cerimónias. Um pequeno na praça Cibeles e um de maiores dimensões no Aeródromo de Cuatro-Vientos. Este último, construído para a cerimónia de despedida do Papa à semelhança do altar-palco português, foi identificado pelo diretor-executivo da JMJ espanhola com um custo de 800 mil euros.
“Custou, teoricamente, 800 mil euros. E arranjámos um patrocinador, uma empresa de construção, que fez metade e, portanto, pagou metade”, garantiu o responsável espanhol.
Ou seja, na comparação direta entre os dois palcos com a mesma finalidade, o português e o espanhol, estão em causa cerca de menos dois milhões de euros na versão de Madrid, ou seja, não está em causa um valor “ligeiramente menor”, como referiu o bispo português.
Ao Polígrafo, fonte oficial da organização da Jornada Mundial da Juventude 2023 reforça a premissa defendida pelo bispo. “Estamos a falar de situações diferentes, porque a solução [de palco] desta edição foi querida por Lisboa, vai ficar para o futuro e será construída num local com alguns desafios”, garante. E defende que o “evento serviu de pretexto para requalificar uma zona degradada”.
A mesma fonte fez chegar ao Polígrafo uma “auditoria interna”, não disponível para consulta pública, feita às contas da Jornada de Madrid para apresentar no Vaticano. Terão sido esses os números – e não os que foram divulgados por Yago de la Cierva – que estiveram na base das declarações de D. Américo. Ainda assim, tendo em conta o valor em causa (1,47 milhões de euros), não é possível afirmar que estamos perante um montante “ligeiramente menor” – na realidade, a confirmar-se este número, em Espanha gastou-se metade do que em Portugal, já depois da significativa redução de custos agora anunciada.
A mesma fonte indica que na edição mais recente do evento religioso, que se realizou no Panamá, em 2019, foi investido um montante global de “12 milhões”.
De facto, consultando o referido portal, identifica-se um contrato de março de 2018, no valor de 11,9 milhões de dólares norte-americanos (cerca de 10,7 milhões de euros, mediante a taxa de câmbio média em 2019) com a seguinte descrição: “Serviços de planeamento e engenharia técnica para a montagem das infra-estruturas e equipamento tecnológico para o desenvolvimento dos eventos a realizar de 22 a 27 de Janeiro de 2019, relacionados com a visita de Sua Santidade o Papa no âmbito do Dia Mundial da Juventude”.
Valor idêntico é apontado por jornais do Panamá. “O Governo do presidente Juan Carlos Varela gastará 12,4 milhões de dólares no palco onde o Papa Francisco celebrará uma missa durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ)”, lê-se num artigo do “Panamá América“, de dezembro de 2018.
A estrutura é descrita como uma plataforma de quatro níveis que incluía “um elevador para a subida do Papa, 18 ecrãs de 8 metros de comprimento por 5 metros de largura, 96 altifalantes e outros dois ecrãs principais de 20 metros de comprimento por 5 metros de largura”. Refere-se também o “equipamento de som sofisticado” que seria instalado. Ou seja, este valor agrega a estrutura do palco, mas também todo o sistema de som e imagem.
Em Portugal, o Governo vai pagar 5,9 milhões de euros (acrescido do IVA à taxa legal em vigor) em “serviços de fornecimento, montagem e operacionalização de sistemas de áudio e vídeo, iluminação ambiente, e respetivo abastecimento de energia, para o Parque Tejo/Trancão, no âmbito da Jornada Mundial da Juventude 2023”. O contrato já se encontra adjudicado e foi publicado no portal Base no dia 10 de fevereiro.
Adicionando este valor de 6,5 milhões de euros ao do palco, entretanto reduzido para 2,9 milhões de euros, chegamos a um total 9,4 milhões de euros, valor próximo do que foi despendido no Panamá.
Em suma, pegando nos exemplos das edições da JMJ que decorreram em Espanha e no Panamá, verifica-se que no caso de Madrid a diferença de valores apontada por Américo Aguiar não é “ligeiramente menor”, seja qual for a versão que tomarmos como referência de comparação. Na do diretor-executivo da Jornada Mundial da Juventude de Madrid, Yago de la Cierva, falamos da diferença de 2,9 milhões para 800 mil euros; na de D. Américo, baseada numa auditoria interna realizada por uma consultora, está em causa uma diferença de cerca de 50%.
Por outro lado, olhando para o evento que decorreu no Panamá e para o contrato que agrega a montagem das infraestruturas do palco e os sistemas audiovisuais – valor global de cerca de 10,7 milhões de euros – verificamos que não está muito distante do caso português, já que por cá foram realizados contratos separados que, em conjunto, totalizam 9,4 milhões de euros.
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Avaliação do Polígrafo:
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