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| - “Mais um que deixou de tomar os comprimidos”, ironiza-se no post de 14 de maio no Facebook, em referência ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que nesse mesmo dia argumentou que Portugal é um “beneficiário líquido” da situação vivida ao nível internacional, por ser visto “como longínquo da guerra” na Ucrânia. Nesse sentido defendeu que “o inteligente é saber aproveitar ocasião”.
O autor do post dedica-se então a refutar a ideia de Rebelo de Sousa, alegando desde logo que “o investimento estrangeiro, no ano passado, baixou 42% em Portugal“. Esta frase, precisamente, motivou pedidos de verificação de factos ao Polígrafo.
“A China é o maior investidor em Portugal, mas a EDP atacada por [António] Costa teve mais de 75 milhões [de euros] de prejuízo só no primeiro trimestre deste ano. A nossa instabilidade fiscal, constante alteração do IRC e carga fiscal muito elevada, afasta o investimento estrangeiro para outros países da União Europeia. Por outro lado, Portugal só investe se tiver fundos europeus, mas tem a mais baixa taxa de execução”, lê-se ainda no mesmo texto.
É verdade que “o investimento estrangeiro, no ano passado, baixou 42% em Portugal”?
Não. De acordo com os dados apurados pelo Banco de Portugal (BdP), o Investimento Direto Estrangeiro (IDE) em Portugal até aumentou consideravelmente em 2021.
Depois de se ter cifrado em 146.992 milhões de euros em 2019, o stock de IDE em Portugal caiu para 144.583 milhões de euros em 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19, mas voltou a subir até um novo ponto máximo de 154.980 milhões de euros em 2021 – mais 10.397 milhões de euros do que no ano anterior.
Ou seja, não “baixou 42%” entre 2020 e 2021. Na realidade aumentou em cerca de 7,2%.
“Entende-se por investimento direto o investimento que uma entidade residente numa determinada economia realiza com o objetivo de controlar ou influenciar a gestão de uma empresa residente noutra economia. (…) O investimento direto estrangeiro é uma categoria de investimento que se insere nas estatísticas externas (balança de pagamentos e posição de investimento internacional). O investimento direto é habitualmente analisado com base no princípio ativo/passivo, a designada apresentação standard. Propõe-se neste subdomínio explorar uma apresentação suplementar – princípio direcional, em que os fluxos, posições e rendimentos de investimento direto são organizados de acordo com a direção da influência do investimento, na perspetiva da economia compiladora, ou seja, no caso de Portugal”, informa o BdP.
“A apresentação pelo princípio direcional é mais apropriada para a análise das motivações e dos impactos do investimento direto. Uma vez que é disponibilizado detalhe adicional por país/zona geográfica da entidade não residente, por setor de atividade económica da entidade residente e por tipo de entidade residente”, destaca. “As estatísticas produzidas de acordo com o princípio direcional apresentam, na perspetiva do utilizador, uma maior riqueza informativa para a identificação, designadamente, dos países que estão a investir em Portugal ou nos quais Portugal está a investir, assim como das atividades económicas que estão a atrair investimento estrangeiro ou que estão a investir no exterior”.
O erro da publicação no Facebook terá resultado de um equívoco: o que realmente “baixou 42%” foi o investimento estrangeiro global, ou seja, em todo o mundo, durante o ano de 2020. Pelo que aplicamos o carimbo de “Falso“.
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Avaliação do Polígrafo:
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