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  • Todos os partidos criticaram ontem António Costa pelas ações “tardias” do pacote de ajuda às famílias portuguesas. Na Assembleia da República, em declarações aos jornalistas, Rodrigo Saraiva, líder parlamentar do Iniciativa Liberal, recorreu à conhecida expressão “a montanha pariu um rato” para classificar as ajudas do Executivo. E acusou o Primeiro-Ministro de as protelar: “Passaram-se cinco meses quando já poderia ter tomado [António Costa] várias medidas. O que é que esteve a fazer durante estes cinco meses? Esteve à espera que a guerra acabasse? Esteve à espera que a inflação acabasse, como disse, penso que dia 20 de abril, que achava que era uma coisa meramente conjuntural? Ou esteve à espera de encher os cofres do Estado com o aumento de receitas extraordinárias que teve ao nível dos impostos?” Poucos minutos depois era Mariana Mortágua quem aparecia nos ecrãs das televisões para, em representação do Bloco de Esquerda, recordar a crença do Governo numa “inflação temporária”: “Nós tivemos esta discussão com o Primeiro-Ministro, alertámos o Governo para a necessidade de medidas, essa já foi a discussão do Orçamento do Estado, quando o Governo se recusou a atualizar salários dizendo que a inflação era temporária. Nessa altura, todo o país sabia que a inflação era permanente e vinha para ficar.” Será verdade que Saraiva e Mortágua têm razão ao afirmar que Costa classificou o fenómeno inflacionário como “temporário”? A resposta é afirmativa. A dar razão a Rodrigo Saraiva está um debate sobre o Programa do Governo, realizado a 7 de abril deste ano, em que António Costa classificou a inflação como “conjuntural e transitória”. Na altura, esta já se fazia sentir na carteira dos portugueses. Para a combater, também temporariamente, Costa anunciou um pacote de apoios excepcionais para os combustíveis, a electricidade e para as famílias, mas sempre crente de que a inflação não vinha para ficar. Já quanto a Mariana Mortágua, a bloquista está também correta quando garante que Costa recusou atualizar salários tendo por base o carácter alegadamente passageiro da inflação. Também a 7 de abril deste ano, o Primeiro-Ministro, respondendo à exigência do então presidente do PSD, Rui Rio, de uma atualização dos salários de acordo com a inflação, afirmou ser necessário “compreender bem a natureza” do período inflacionista: “É uma inflação importada que tendencialmente tem uma natureza conjuntural e causas bem precisas. A melhor forma de proteger o poder de compra das famílias é atacar os problemas pela raiz. Como é que devemos ajustar a política de rendimentos? É algo que temos de ir acompanhando e negociando com os parceiros sociais ao longo deste ano.” A 7 de abril deste ano, durante o debate sobre o Programa do Governo, António Costa classificou a inflação como “conjuntural e transitória”. Na altura, esta já se fazia sentir na carteira dos portugueses. Para a combater, também temporariamente, Costa anunciou um pacote de apoios excepcionais para os combustíveis, a electricidade e para as famílias Costa lembrava ainda que havia o risco de contaminar o “conjunto da economia por via da ilusão do aumento salarial deste aumento inflacionista” e explicava a Rio que, “se se confirmar a natureza iminentemente conjuntural desta tensão inflacionista, como afirmam várias instituições internacionais, temos de olhar para a política de rendimentos do próximo ano não à luz da tensão ocasional deste ano, mas à luz de que tem de ser o poder de compra que, sustentadamente, temos de garantir às famílias portuguesas, evitando qualquer espiral de inflação”. Dois dias depois, na abertura da reunião da Comissão Nacional do PS, no Hotel Myriad, em Lisboa, quando o tema do combate à inflação já tinha chegado ao Parlamento pela voz dos partidos à esquerda, Costa repetia o que havia dito a Rio – que “não embarca na ilusão”. E explicou porquê: “Se os custos sobem por via da energia, esse aumento de rendimentos seria comido pelo aumento dos preços. Não é essa espiral inflacionista que queremos alimentar.”
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