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| - “Sabiam que ‘só’ 100 empresas são responsáveis por cerca de 70% das emissões de CO2 a nível mundial, e nada é feito para travar esse lobby, mas depois o povo é que tem de parar de usar palhinhas, andar de bicicleta e comer rebentos de soja?”
Desde 2017 que afirmações como esta têm surgido, com uma ou outra variação, nas redes sociais. E uma pesquisa menos aprofundada até pode apontar facilmente para o resultado errado: o que não faltam na internet são artigos de publicações conceituadas como Guardian, Fortune, Wired e CNBC a assegurar que, não apenas 70%, mas 71% das emissões mundiais de gases de efeito estufa entre 1988 e 2015 tinham sido libertadas por um grupo restrito de uma centena de empresas produtoras de combustíveis fósseis. Mas será que é mesmo assim?
Baseadas num relatório publicado há cinco anos pela CDP, uma organização ambientalista sem fins lucrativos, em colaboração com o Climate Accountability Institute, as notícias não estão incorretas — mas os títulos podem induzir em erro.
A conclusão essencial do “Carbon Majors” é essa mesma: “100 produtores ativos de combustíveis fósseis estão ligados a 71% dos gases industriais globais com efeito de estufa libertados desde 1988, ano em que as alterações climáticas induzidas pelo homem foram oficialmente reconhecidas através da criação do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas”.
Ora, a palavra-chave aqui é “industrial”. Estas 100 empresas, de entre as quais se destacam gigantes como ExxonMobil, Shell, Petrobrás, BP e Gazprom, foram, desde o ano em que se começaram a fazer medições, responsáveis pela maioria das emissões de “gases industriais” de efeito estufa — mas não das emissões globais.
Pode ler-se na introdução do documento: “Este relatório analisa o dióxido de carbono industrial e o metano resultantes de produtores de combustíveis fósseis no passado, presente, e futuro”. Ou seja, 71% das emissões provenientes das indústrias de combustíveis fósseis e cimento podem ser atribuídas às 100 empresas citadas, o que é muito diferente de dizer que são elas as responsáveis por todos os gases de efeito estufa libertados para a atmosfera.
De fora dos dados analisados neste estudo ficaram as emissões produzidas por todos os outros setores, como o agroalimentar, que de acordo com um estudo da FAO é responsável por 31% de todas as emissões, e também outros gases de efeito estufa, como o óxido nitroso e os hidrofluorcarbonetos, que em 2019 correspondiam, respetivamente, a 6% e 2% das emissões globais da União Europeia.
Conclusão
Não é verdade que 100 empresas sejam responsáveis por 71% das emissões de dióxido de carbono a nível mundial.
A afirmação tem origem na leitura errada de um estudo de 2017 que atribuiu, isso sim, a 100 empresas 71% de todas as emissões industriais de dióxido de carbono e de metano entre 1988 e 2015.
Por muito que o setor da energia, onde se enquadram as 100 empresas citadas, produtoras de combustíveis fósseis e cimento, seja a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo, de fora da análise ficaram todos os demais setores — bem como outros gases, que não o CO2 referido na publicação e o metano.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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