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| - “Marlene Dietrich sendo presa à chegada a Paris, em 1933, ao sair do navio transatlântico por vestir calças. Até 2013 foi ilegal, juridicamente em França, as mulheres usarem calças”, escreve uma das publicações encontrada pelo Polígrafo no Facebook, partilhada a 19 de julho.
Será que a icónica atriz foi mesmo presa por querer vestir calças? E essa proibição manteve-se inscrita na lei francesa por mais 80 anos?
Em 1933, Marlene Dietrich já tinha participado em mais de 20 filmes na Alemanha e o realizador Josef von Sternberg tinha feito dela uma musa e um ícone em “O Anjo Azul”, três anos antes. Nesse mesmo ano, a atriz protagonizava o seu primeiro filme nos Estados Unidos, “Marrocos”, e chocava as audiências. O filme de Sternberg contava a história de uma cantora de cabaret que se apaixonava por um legionário, mas o que deixou o público surpreendido foi a cena onde Dietrich aparece vestida de homem, com fato completo, cartola e cigarro na mão. Nessa cena, a atriz canta e, a certa altura, beija outra mulher.
Contudo, a atitude de Dietrich ultrapassava a sétima arte. Na vida real, a atriz era bissexual e alimentava uma imagem ambígua, que misturava o feminino e o masculino. E não estava sozinha, Greta Garbo ou Katherine Hepburn faziam o mesmo.
No episódio da publicação em análise, Marlene Dietrich estava em viagem, a atravessar o Atlântico no navio SS Europa em direção a França. Durante a viagem usou um fato com calças e casaco de cor branca. As notícias chegaram aos ouvidos do chefe da polícia de Paris que anunciou de imediato que se a atriz vestisse calças na capital francesa, seria detida.
Depois de o navio atracar em Cherbourg, no norte de França, Marlene Dietrich vestiu um fato completo, colocou uma boina e uns óculos escuros para a viagem de comboio até Paris. Assim que saiu do comboio, agarrou no braço do chefe de polícia e conduziu-o para fora da plataforma, tomando as rédeas da situação.
Na origem da intenção do chefe da polícia estava uma lei instaurada a 7 de novembro de 1800, depois da Revolução Francesa, que proibia as mulheres de usar calças e exigia que aquelas que se quisessem vestir como homens tivessem de pedir autorização prévia à polícia. No início do século XX, a lei passou a permitir que as mulheres pudessem usar calças, mas sob uma condição: “Se estiverem a segurar o guiador de uma bicicleta ou as rédeas de um cavalo”.
A velha lei só seria abolida a 31 de janeiro de 2013, mais de dois séculos depois de ter entrado em vigor, apesar de já não ser seguida há muito tempo.
A ministra francesa dos Direitos da Mulher declarou que a legislação não era compatível com os valores atuais do país. Najat Vallaud-Belkacem explicou que a lei original teve como propósito impedir as mulheres de realizarem certos trabalhos e limitar o acesso das mulheres a escritórios e outras ocupações que, nessa altura, eram exclusivamente masculinas.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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