schema:text
| - Sobre uma imagem de Catarina Martins, líder do Bloco de Esquerda (BE), um meme publicado na página “O País do Mete Nojo”, já com milhares de partilhas nas redes sociais, sobretudo no Facebook, destaca-se a seguinte mensagem: “Ó camarada Catarina então como é, dizes tão mal da União Europeia e sacas 145 mil euros de fundos públicos para a reconstrução de património pessoal. Só queria ter a tua lata…”
A publicação em análise, na sequência de vários pedidos de leitores do Polígrafo, remete para uma notícia do jornal “Eco”, datada de 31 de julho de 2018, intitulada da seguinte forma: “Catarina Martins tem posição em empresa de alojamento local. Mas é no interior do país”. Segundo a notícia em causa, a qual não foi desmentida pela visada, “a coordenadora do BE detém uma posição minoritária numa empresa de alojamento local gerida pelo marido e pela sogra. Explora unidades no Sabugal. Partido diz que ajuda a combater a desertificação”.
A história remonta a 2008, quando Catarina Martins e o marido, Pedro Miguel Soares Carreira, “fundaram esta sociedade com ‘atividades comerciais na área do turismo’, no âmbito da ‘exploração de empreendimentos de turismo no espaço rural’. Nessa altura, cada um detinha uma quota de 50%. Em 2009, a entrada de Catarina Martins no Parlamento, como deputada em regime de exclusividade, levou a alterações na gerência de empresa”.
“Pedro Carreira manteve-se como gerente e entraram dois novos sócios: Ana Maria Manso Soares e José Manuel Carreira, sogros de Catarina Martins e proprietários de ‘grande parte’ do património explorado pela Logradouro Lda. Catarina Martins e o marido mantiveram uma ‘participação simbólica’ no negócio. Atualmente, a coordenadora do BE tem 4% da empresa”, prossegue o artigo. “E que património está aqui em causa? desde logo, a Logradouro Lda. explora uma unidade de alojamento local com capacidade para quatro pessoas, com dois quartos e duas camas. A unidade, inscrita no Registo Nacional de Estabelecimentos de Alojamento Local (RNAL), é chamada de Casa da Marzagona”.
O imóvel está registado como alojamento local porque se trata da casa dos sogros de Catarina Martins na sua aldeia de origem, onde a família se reúne em épocas festivas. Nos períodos em que não é utilizada pelos proprietários, está disponível para turismo. De resto, a Logradouro Lda. “explora ainda quatro estabelecimentos turísticos que se encontravam abandonados no momento em que a empresa foi fundada. (…) A empresa conseguiu aprovar, no final de setembro de 2009, um projeto de ‘recuperação e reconversão de antigos palheiros para turismo rural’ no âmbito do Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN) e recebeu um incentivo comunitário de 137,3 mil euros”.
Não apenas o valor do meme está inflacionado como se faz referência a “fundos públicos” e não “fundos comunitários”, dando a entender que terão sido fundos atribuídos diretamente pelo Estado português, ao mesmo tempo que Martins é deputada à Assembleia da República.
“O projeto foi avaliado em 183,1 mil euros. O património foi recuperado para turismo e, em 2011, estas quatro unidades foram registadas como empreendimentos turísticos. No total, os quatro empreendimentos explorados pela Logradouro Lda. têm capacidade para 16 pessoas. Atualmente, a empresa é gerida por Pedro Carreira e pela mãe, Ana Soares”, indica o artigo. Estes factos foram na altura confirmados pela própria visada, a líder do BE.
Como o artigo explica, o património era e continua a ser dos sogros de Martins e não da própria. Mais, na altura em que o projeto obteve os fundos comunitários e as obras se iniciaram, Martins já estava no Parlamento e passara a ter uma quota simbólica de 4% da empresa.
Ou seja, a publicação em análise baseia-se num artigo factual e verdadeiro, mas extrapola os dados e acaba por gerar desinformação e falsidades. Desde logo no que respeita aos “145 mil euros de fundos públicos” que classifica como “sacados”. Ora, o projeto obteve fundos comunitários, no âmbito do QREN, com um valor total de 137, 3 mil euros. Não apenas o valor do meme está inflacionado como se faz referência a “fundos públicos” e não “fundos comunitários”, dando a entender que terão sido fundos atribuídos diretamente pelo Estado português, ao mesmo tempo que Martins é deputada à Assembleia da República.
Outra componente de desinformação é a alegada “reconstrução de património pessoal”. Como o artigo explica, o património era e continua a ser dos sogros de Martins e não da própria. Mais, na altura em que o projeto obteve os fundos comunitários e as obras se iniciaram, Martins já estava no Parlamento e passara a ter uma quota simbólica de 4% da empresa, juntamente com o marido. O património é dos sogros, a empresa é detida quase totalmente pelos sogros, mas a publicação refere-se a “património pessoal” de Martins.
A notícia de base é verdadeira. O meme que extrapola e manipula os factos plasmados nessa notícia gera desinformação e, como tal, só pode ser classificado como falso.
Avaliação do Polígrafo:
|