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| - “Ninguém previu que esta segunda vaga surgisse tão cedo. Toda a gente a antecipava na passagem do Outono para o Inverno, ninguém pensava que chegasse tão cedo. Isso é claro”, afirmou o primeiro-ministro António Costa, em entrevista à TVI, no dia 9 de novembro. O jornalista Miguel Sousa Tavares questionara-o sobre falhas na capacidade de antecipação e planeamento do Governo, relativamente à gestão da pandemia de Covid-19, apontando exemplos de medidas que terão sido aplicadas demasiado tarde.
O Polígrafo recebeu vários pedidos de leitores no sentido de verificar se esta frase proferida pelo primeiro-ministro tem (ou não) sustentação factual. Confirma-se que “ninguém previu” que uma segunda vaga da pandemia “surgisse tão cedo”?
No dia 10 de abril de 2020, o próprio Costa concedeu uma outra entrevista à TVI, no âmbito do programa “Você na TV”, tendo desde logo assumido que “seguramente” iria surgir uma segunda vaga da pandemia de Covid-19.
_ Que ensinamento é que tira disto para uma nova onda que pode surgir, é o que se diz, no Inverno? _ perguntou o apresentador Manuel Luís Goucha.
_ Eu aí sou um bocadinho mais pessimista. Eu acho que seguramente vai surgir. _ respondeu o primeiro-ministro.
Em publicação de 10 de novembro na página do partido Iniciativa Liberal recorda-se precisamente essa previsão de Costa, mas aponta-se para o “Outono/Inverno”, algo que não é totalmente rigoroso, pois Goucha referiu-se apenas ao Inverno e a resposta é dada nesse enquadramento temporal.
Mais acertada é a referência a uma notícia de 15 de maio sobre a Organização Mundial da Saúde (OMS) que, nessa altura, avisou que os países europeus devem preparar-se para uma segunda vaga letal de infecções da pandemia. O alerta foi feito pelo diretor regional para a Europa, Hans Kluge, em declarações ao jornal britânico “The Telegraph”.
“O responsável da OMS confessou estar ‘muito preocupado‘ com uma segunda vaga da pandemia, que a chegar algures durante o Outono iria coincidir com surtos de outras doenças infecciosas”, noticiou o jornal “Público”, baseando-se no artigo do referido jornal britânico. “‘No Outono podemos vir a ter uma segunda vaga de Covid-19 e outra de gripe sazonal ou sarampo. Há dois anos tínhamos 500 mil crianças que ainda não tinham tido a sua primeira vacina contra o sarampo’, exemplificou. Hans Kluge lembrou o que se verifica nas pandemias que existiram ao longo da história, como a gripe espanhola, que surgiu em março de 1918 e voltou mais agressiva e letal na segunda vaga, durante o Outono do mesmo ano“.
Na publicação do partido Iniciativa Liberal destaca-se ainda uma notícia de 11 de julho do jornal “Expresso”, informando então que “o grupo de peritos que trabalha com a Direção-Geral da Saúde (DGS) na elaboração das projeções sobre a evolução da pandemia alerta que o número de infetados deverá começar a subir significativamente três semanas após o início do próximo ano letivo, que arranca a 14 de setembro. ‘Numa fase inicial, esse aumento poderá ser exponencial, sobretudo nas zonas com maior densidade populacional, nomeadamente Lisboa e Porto’, avisa Manuel Carmo Gomes, professor de epidemiologia na Universidade de Lisboa e um dos principais colaboradores da equipa de peritos da DGS e do Instituto Ricardo Jorge. ‘O perigo vai começar em outubro e até fevereiro vamos estar sempre debaixo de grande risco, porque as pessoas passam mais tempo em ambientes fechados, tentam manter as suas atividades profissionais, os transportes estarão a funcionar e as aulas a decorrer'”.
Concluíndo, na entrevista de 10 de abril, Costa referia-se ao Inverno que só se inicia no final de dezembro. No entanto, quer o aviso do diretor regional para a Europa da OMS (a 15 de maio), quer a previsão do grupo de peritos da DGS (a 11 de julho), apontando claramente para o Outono, servem para comprovar que não é verdade que “ninguém previu” que uma segunda vaga da pandemia “surgisse tão cedo”.
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Avaliação do Polígrafo:
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